Dr. Sydney Haje

PECTUS não é uma doença.

Pectus é um grupo de deformidades no torax que acomete milhões de pessoas no mundo, mas que são desconhecidas pela sociedade, pois quem tem o problema o esconde. Deformidades pectus são muito comuns e não são apenas um problema estético. Elas também implicam problemas psicológicos para os pacientes e suas famílias, merecendo uma abordagem racional e uma discussão social para o benefício das pessoas que têm a condição.

Os primeiros relatos de deformidades tipo pectus foram identificados em obras de pinturas e esculturas do egito antigo que datam de 2400 ac. Embora Garcia, Seyfer e Graeber (1989) relatem uma incidência de um caso de pectus excavatum para cada 300 nascidos vivos e Haje, Haje e Simioni (2002) descrevam um caso de pectus para cada 100 estudantes escolares examinados, tais deformidades são normalmente pouco conhecidas pela população em geral.

Conforme descrito, as deformidades pectus são muito comuns e eles não são apenas um problema cosmético. Eles também implicam problemas psicológicos para os pacientes e suas famílias, exigindo uma abordagem racional e uma discussão social para o benefício das pessoas que têm a condição.

Teve mais de 20 publicações científicas, no Brasil e no exterior, e recebeu sete premiações por seus estudos, duas delas no exterior. Nós últimos anos de sua vida ele treinou ativamente e realizou pesquisa na área de pectus com seu filho Prof. Dr. Davi P. Haje e o Dr. Moacir Silva Neto, hoje médicos responsáveis pelo Centro Clínico Orthopectus.

A sua história profissional é resumida pelo seu filho Prof. Dr Davi P. Haje no texto abaixo escrito sete dias depois da morte do Dr. Sydney A. Haje, ocorrida em 25-6-2012.

“Natural de Anápolis-GO, mudou-se para Brasília em 1969 para completar seus estudos, tendo formado em medicina em 1976 pela Universidade de Brasília (Unb) e feito residência médica em ortopedia no Hospital Sarah. Possuía ainda a especialização em fisiatria.

O seu grande legado na medicina foi ter criado um protocolo de tratamento conservador para as deformidades torácicas. O seu primeiro paciente foi tratado há 35 anos, quando criou as órteses CDT I e, mais tarde, a CDT II, associando um protocolo de exercícios específicos (Método Dinâmico de Remodelação), o que estabeleceu novos padrões para o tratamento do pectus carinatum e excavatum, e trouxe o tratamento dessas patologias, antes tratadas apenas por cirurgiões torácicos, para a área da ortopedia. O número de pacientes com pectus catalogados e fotografados com uma organização admirável beirava a cinco mil.

Pioneiramente descreveu em suas publicações os diferentes tipos de pectus; relatou que para cada tipo de pectus existe um prognóstico de tratamento e uma idade ideal para iniciar o tratamento; mostrou que a flexibilidade da caixa torácica é variável e que o tratamento depende também desse fator. Mostrava que para qualquer tratamento com uso de órteses torácicas é necessário ter uma sensibilidade muito grande como médico, o que ele tinha de sobra.

Além de tratar essas deformidades, pesquisou a sua prevalência em nossa população e mostrou a sua associação com alguns problemas respiratórios e da coluna vertebral. Foi o pioneiro a produzir essas deformidades em experimento com animais no Instituto Alfred I. Dupond, nos Estados Unidos, mostrando que, no lugar das suturas antes descritas entre os segmentos esternais, existem na verdade placas de crescimento, comprovando que tanto o carinatum, quanto o excavatum são causados por distúrbios de crescimento geneticamente determinados nessas placas.

Foi no Journal of Pediatric Orthopadics que trouxe a sua primeira publicação internacional, dentre outras 23 sobre o tema pectus. Foi o primeiro a descrever na International Orthopaedics a possibilidade do pectus iatrogênico após cirurgia cardíaca associada à esternotomia em esqueleto imaturo, devido à lesão dessas placas de crescimento.

A radiologia do esqueleto torácico não foi deixada de lado, mostrando em publicações inovadoras e premiadas (Caffey Award Paper), na Skeletal Radiology e na Pediatric Radiology, o que acontece com o manúbrio, o esterno e as cartilagens costais nos pacientes com pectus. Criou índices radiográficos, além de descrever ineditamente vários achados tomográficos e fazer uma correlação deles com os diferentes tipos de pectus.

Publicou na International Orthopaedics a possibilidade de hipercorreção das deformidades pectus com o tratamento inventado por ele e como manejar essas complicações, frutos de um tratamento mais que eficaz. Teve o prazer de descrever em detalhes o seu tratamento em livro editado por seu amigo Hebert Sizínio e em publicações na RBO. Tratamento esse que não parava de evoluir. Hoje, caso fosse escrever um novo capítulo, mostraria as suas novas inovações no tratamento do pectus, muitas vezes detalhes que faziam toda a diferença no tratamento bem sucedido.

O seu método estava mundialmente reconhecido. O colega Dr Andre Hebra, professor de Cirurgia Pediátrica da Universidade de Carolina do Sul, escreveu o seguinte e-mail para a comunidade cientifica a poucos dias: The surgical community across the world is mourning the loss of Dr. Haje. His creative and visionary mind will forever be a source of inspiration for medical professionals, particularly surgeons that care for children. Thanks to his dedication and devotion to patients affected by congenital chest wall malformations, he was able to revolutionize the management of pectus deformities, bringing to the forefront creative treatment options that provided cure without surgical intervention. His unselfish nature allowed for the quick dissemination of his treatment techniques across the world, bringing the brace treatment to all continents. Without any doubt, thousands of children all over the world have already benefited from Dr. Haje’s treatment interventions. Our surgical community will, as he was, continue to be committed to the dissemination of his treatment techniques to the benefit of countless number of patients. Dr. Haje will always be remembered by all of us with great admiration and respect. We share with his family the great sadness of the premature loss of his life. However, we are confident that the many patients that have benefited from his work and the many more that will benefit in the future from his techniques will place him on a special pedestal for medical innovators that will never be forgotten.

Fez palestras sobre o seu método de tratamento nos Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Turquia, Argentina, Croácia, Espanha, México e Rússia. Seu método é considerado revolucionário na Inglaterra, veja no vídeo, e já é adotado nesse país com o seu nome. Os cirurgiões torácicos mundiais mais renomados e que mais publicam se renderam à sua técnica, sendo o Dr Sydney A. Haje sempre um dos principais conferencistas dos últimos encontros do Chest Wall Interest Group (CWIG). Nas suas publicações e palestras, fazia questão de mostrar detalhes do seu tratamento para que outros colegas pudessem reproduzir seu método.

Não sei o por quê, mas ele sempre me dizia que sua última publicação seria a derradeira. Na última, descreveu ineditamente o tratamento conservador simultâneo das deformidades torácicas e da escoliose severa, mostrando os resultados com seu colete Colete Inclinado de Brasília. Na minha opinião, este será outra contribuição para nossa ortopedia quando estudado com maior casuística e tempo de seguimento.

Ajudou os pacientes carentes de Brasília, ao criar o primeiro programa de tratamento conservador do pectus em rede pública no Brasil, em 1995, conseguindo que as órteses CDT I e II fossem distribuídas de forma gratuita no DF desde então. No dia e hora de sua morte, de forma coincidente um programa de TV local mostrava pacientes recebendo um CDT gratuitamente em uma oficina ortopédica do governo.

Tinha planos de continuar os tratamentos dos milhares de pacientes que vinham de todos os lugares do Brasil e do mundo; tinha planos de continuar seus ensinamentos pelo mundo afora. Em novembro, iria para Londres ensinar novamente os ingleses a tratar os problemas do tórax com seu método, em um curso de uma semana. Ele já tinha convite para participar do próximo encontro do CWIG, na Coréia do Sul, em 2013.

Sempre foi muito atuante na SBOT. Foi presidente da regional do DF por dois biênios seguidos, onde reformulou a sociedade, que se fortaleceu desde então. Criou o primeiro COT-COB e lançou a candidatura de Brasília para o CBOT que aconteceu em 2010. Recentemente participava ativamente da Associacao Medica de Brasilia (AMBr) onde era diretor cientifico e de ensino médico continuado.

No dia mais triste de minha vida, encontrei o corpo do meu pai sem vida material, na frente do seu computador, onde respondia dúvidas diárias que chegavam dos pacientes, além de escrever suas publicações científicas. Tinha acabado de escrever as suas duas últimas palavras antes do seu coração parar de forma abrupta. Vi um texto científico sobre o trabalho da sua vida profissional, sobre pectus, pela primeira vez sem seu nome, apenas com o meu. Talvez um sinal divino de que, naquele momento, ele já tinha feito tudo o que ele precisava na Terra.

Prof. Dr. Davi P. Haje ou seu filho Davi

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